Porto Alegre acaba de ganhar um guia on-line para preservar a história e memória de seu patrimônio arquitetônico, do clássico ao contemporâneo. Idealizado pelos arquitetos e urbanistas Rodrigo Poltosi e Vlademir Roman, da VRP Arquitetura Estratégica, o Guia Arqpoa reúne textos, fotografias e informações sobre 100 obras arquitetônicas, urbanísticas, paisagísticas, históricas e culturais da cidade. O mapeamento parte dos edifícios e espaços públicos constantes na publicação impressa lançada em 2017 (Guia de Arquitetura de Porto Alegre), e possibilita o incremento desta lista inicial com a colaboração de novos autores.
O projeto foi desenvolvido a partir do Edital de Chamamento Público 003/2019 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), através do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RS) e de seus autores.
A evolução urbana e arquitetônica da cidade permite vivenciar marcas de sua trajetória. Porto Alegre, porém, era carente de um registro abrangente. “A constatação de que não havia nenhum guia que mostrasse, destacasse e analisasse sua arquitetura nos diversos períodos históricos e estilísticos nos motivou a organizar todo este material. A arquitetura de Porto Alegre não é suficientemente conhecida e valorizada, mesmo por seus habitantes. São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires e até mesmo Pelotas e Caxias do Sul, para ficarmos em exemplos próximos, têm seus guias de arquitetura “, explicam.
Curadoria e processo seletivo
A montagem do Guia levou em consideração os patrimônios já reconhecidos pelo poder público e o conhecimento dos idealizadores do projeto sobre a cidade. De uma lista inicial de 200 espaços, 100 foram selecionados. “A prioridade era divulgar os locais passíveis de visitação, já que o Guia não é direcionado especificamente aos arquitetos e urbanistas, mas principalmente aos moradores, turistas e visitantes da cidade”, explica Rodrigo. E se engana quem acha que o projeto está restrito a edificações. “Gostamos de frisar que além de prédios, há praças e exemplos de paisagismo e urbanismo, como é o caso do IAPI, inspirada no conceito de cidade-jardim”.
Arquitetura, história e estética
Novas e antigas edificações compartilham o mesmo espaço em Porto Alegre, conferindo-lhe uma estética arquitetônica bastante diversa. Esta é apenas uma das constatações dos arquitetos e urbanistas responsáveis pelo projeto. “É bem impressionante a quantidade de prédios antigos que receberam adições de um andar, ou até dois, acima da construção original, como o edifício que abriga a Secretaria da Fazenda”, destaca Vlademir.
Segundo o arquiteto e urbanista, o período modernista é pouco reconhecido, embora tenha contribuído com obras de boa qualidade, como os edifícios Jaguaribe e Esplanada, localizados na região central da cidade. “A Fundação Iberê Camargo, por exemplo, é um patrimônio reconhecido por grande parte da população, mas há todo um período recente do modernismo que precisa ser valorizado”. E complementa: “o objetivo do guia online é aumentar o relacionamento das pessoas com a cidade, fazer com que elas aprendam a olhar e passem a conhecer e valorizar seu patrimônio arquitetônico.
Confira a apresentação de uma das obras em destaque:
Sobrados da Fernando Machado
Este conjunto de sobrados e escadaria atestam o processo de ocupação da encosta sul do centro da cidade. Em 1927, Antônio Chaves Barcellos Filho contratou a construção de uma série de casas e, para facilitar o acesso ao conjunto, arcou com um terço do custo da construção de uma escadaria.
A escadaria se inicia junto à Rua João Manoel, partindo de dois terraços que compõe um belvedere e logo se bifurca em dois lances menores laterais, conformando um pórtico que emoldura o patamar intermediário. Deste, segue em três lances retos e centrais até atingir a Rua Cel. Fernando Machado. Os guarda-corpos são em alvenaria e em gradis metálicos geométricos. Esta variedade de lances e proteções confere riqueza ao percurso.
O conjunto das nove casas se apresenta com dois e três pavimentos, e são construídas em alvenaria de tijolos e telhas cerâmicas. Possuem os acessos agrupados, sendo que nas extremidades são feitos por uma varanda lateral. Há variações entre elas nos volumes salientes, nas formas das aberturas, no tratamento das superfícies e no uso de frontões e mansardas.
Este conjunto testemunha uma época e um modo de morar, entretanto, lamenta-se que a construção de prédios em altura em seu entorno tenha obstruído a visão, a partir do belvedere, da enseada da Praia de Belas.
Texto: Rodrigo Poltosi e Vlademir Roman
Foto: Leandro Selister
Foto destaque: Leandro Selister – Divulgação ArqPoa
Fontes: IAB-RS e ArqPoa