Falta de compreensão sobre a Arquitetura de Interiores, desconhecimento da sociedade, preconceito por parte dos próprios profissionais. Qual é, afinal, a diferença entre o trabalho do “arquiteto de interiores” e o do decorador? Essas questões impulsionaram um grupo de arquitetos e urbanistas gaúchos a se unirem para promover a profissão, ressaltando as atribuições, competências e responsabilidades de quem atua em Arquitetura de Interiores.
O ano era 1987 e o cenário era o escritório do arquiteto e urbanista Salus Finkelstein, em Porto Alegre. Os encontros eram periódicos e o grupo de colegas foi sendo ampliado, reforçando o interesse comum de valorizar a Arquitetura de Interiores.
“O profissional de Arquitetura de Interiores era bastante confundido com outros profissionais, como engenheiros, decoradores e até desenhistas. Era preciso, no primeiro momento, mostrar à sociedade as atribuições e as diferenças entre todos eles”, conta a arquiteta e urbanista Joyce Chwartzmann, que trabalhou na área por 35 anos, foi colunista de publicações especializadas e hoje atua como designer de joias. A ausência de padrões de trabalho e de cobrança era outra dificuldade.
“A Arquitetura de Interiores era conhecida por decoração. Os arquitetos menosprezavam essa atividade, até porque as poucas faculdades existentes não contemplavam disciplinas nesta área. E os que trabalhavam em Arquitetura de Interiores não seguiam qualquer normatização, o que propiciava um ‘leilão’ por parte dos clientes em relação a honorários”, complementa a arquiteta e urbanista Arlene Lubianca, diretora da Planobase Lubianca, fundada em 1980.
Além da divulgação da atividade, os colegas entendiam que era preciso, ainda, ampliar a fiscalização sobre a atividade. “Uma preocupação muito grande, naquelas conversas, era sobre a importância de haver uma fiscalização mais efetiva, por parte dos órgãos reguladores do exercício profissional, em intervenções de interiores, como reformas, principalmente, onde houvesse modificações estruturais, o que só deveria ser feito por um profissional habilitado e devidamente registrado no seu órgão de classe”, acrescenta o arquiteto e urbanista Roberto Bordash, recém-formado pela UFRGS à época. Ele trabalhou no escritório João Carlos Bento Arquitetos até 1994 e, desde então, comanda escritório próprio.
A fundação da AAI
Ao lado de Salus, Joyce, Arlene e Roberto, outros arquitetos e urbanistas expoentes na atividade naquela época participavam das discussões: Ana Luiza Cuervo Lo Pumo, Cláudio Fischer, Gilberto Sibemberg, Isac Hochberg, Jayme Leventon, João Carlos Bento, José Hélio Costalunga de Freitas, Maria Cristina de Azevedo Moura, Marta Elian Hochberg, Moacyr Kruchin, Raul Pêgas, Sidnei Birmann e Sônia Tarasconi Pinheiro Machado (in memoriam). “Discutíamos sobre dificuldades e angústias comuns a todos, e começamos a trabalhar”, recorda Arlene.
Aos poucos, a ideia de fundar uma associação representativa da profissão foi sendo fortalecida entre o grupo. “Era preciso criar uma entidade que pudesse nos representar de forma organizada e forte, e nos valorizar perante os arquitetos de outras áreas. Vimos, também, que a troca de experiências seria essencial para crescermos em representação e no dia a dia, já que cada um trabalhava isolado em seu escritório”, relembra Joyce, que veio a assumir como primeira presidente da entidade.
E assim nasceu a Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul (AAI-RS), em 1987. A principal bandeira era divulgar a importância da Arquitetura de Interiores e a do “arquiteto de interiores”, como sendo o profissional indicado para atuar nessa área.
“Outro desafio foi o de desmitificar a atividade, desconstruindo o entendimento de que contratar um arquiteto contribuía para o aumento do custo da obra, o que se comprovou como sendo justamente o contrário. A obra que tem o envolvimento do ‘arquiteto de interiores’ é melhor planejada, com redução ou eliminação de retrabalhos e uso de materiais adequados às situações propostas”, destaca Roberto.
Para ele, esse ainda é um importante desafio para a profissão: a valorização do arquiteto como um profissional que agrega valor à obra.
Prática profissional
“Quando a AAI-RS foi fundada, desenhava-se a mão livre, e a cada erro ou mudança no projeto era preciso começar do zero”, recorda Joyce. Em 1987, eram raros os escritórios de arquitetura que já haviam iniciado a informatização. Pranchetas, lápis, lapiseiras, réguas e compassos eram as ferramentas dominantes. A tecnologia CAD (computer aided design) começava a ser utilizada no mercado (o AutoCAD fora lançado pela Autodesk em 1982). Porém, adquirir computadores e softwares específicos representava um alto investimento, ainda proibitivo para a grande maioria dos escritórios de arquitetura atuantes na época.
“A apresentação era presencial, feita em torno de uma enorme mesa sobre a qual desenrolávamos os projetos”, detalha Joyce. Importante contextualizar que os equipamentos de informática tornaram-se mais acessíveis apenas em meados da década de 1990, a partir da abertura do mercado no Brasil – mesmo período em que a internet (World Wide Web) popularizou-se no país.
Em 1995, os ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia liberaram, por portaria, a operação comercial dos provedores de acesso privado à internet. Somente, então, a comunicação on-line passou a ser estabelecida e um ‘universo’ abriu-se para os profissionais. Neste mesmo período, a globalização da economia no Brasil, com grande abertura para o mercado externo, favoreceu a expansão do mercado e a transformação do segmento. “O crescimento da indústria de materiais, do mobiliário e de acessórios mudou a Arquitetura de Interiores brasileira. A tecnologia veio para mudar a prática profissional. Facilitou o dia a dia e ampliou a forma de apresentação dos projetos, além da comunicação com os fornecedores e clientes”, reforça a primeira presidente da AAI-RS.
Relação com o mercado
Há 30 anos, quem se destacava no segmento de arquitetura de interiores eram aqueles profissionais que atuavam em projetos de empreendimentos de grande porte, como os shoppings centers – espaços comerciais que passaram a ganhar força no país no final da década de 1980. “A presença do profissional de Arquitetura de Interiores sempre foi exigida por estes estabelecimentos, deixando bem claro a importância da atuação”, afirma Roberto Bordash.
A partir dos anos 1990, a reestruturação do varejo brasileiro, em função do aumento da competitividade e do surgimento de um novo perfil de consumidor, fortaleceu a atuação desses profissionais no segmento comercial. E, também, aproximou os profissionais dos empresários, que perceberam a força e a importância do papel dos arquitetos na especificação de materiais e produtos para os projetos. “Os lojistas e os fornecedores, há mais tempo que o público em geral, reconhecem o trabalho do profissional de Arquitetura de Interiores, pois sempre vivenciaram as duas situações – trabalhar com o cliente assessorado pelo arquiteto e com o cliente leigo e sem assessoramento – , podendo avaliar as diferenças dos resultados das duas situações”, avalia Roberto.
Arlene Lubianca reforça: “estabeleceu-se uma relação profissional na qual, até mesmo pelo avanço da legislação, somos todos responsáveis e solidários. Os fornecedores que não entenderem isto também estarão fora do mercado, pois eles têm de fazer parte da solução e não do problema”.
Para Roberto, essa realidade é reflexo da valorização do profissional de arquitetura, tanto pela opinião pública quanto pelos órgãos de fiscalização, como sendo o profissional capacitado para atuar na especificação dos materiais corretos, embasado pelos conhecimentos técnicos para suas aplicações.
Joyce Chwartzmann igualmente considera que a relação com o mercado melhorou muito nestas últimas três décadas; no entanto, reconhece uma realidade que permanece inalterada: “ainda enfrentamos grandes problemas com a mão de obra”.
A Associação acompanhou de perto toda essa ‘revolução’, protagonizando a transformação do segmento, e sempre incluiu temas atuais e importantes na pauta de cada encontro da diretoria e dos eventos realizados, especialmente a tradicional Reunião-Almoço mensal, criada pela AAI-RS em 1992, na gestão presidida por Arlene Lubianca. Essa era a oportunidade de proporcionar capacitação e atualização profissional aos associados.
Representatividade
Mais tarde, após a passagem das arquitetas Clarice Mancuso e Gislaine Saibro pela presidência da AAI-RS, o arquiteto Lúcio Albuquerque assumiu a entidade e realizou o primeiro evento comemorativo ao Dia do Arquiteto, que se tornou um evento fixo na agenda dos arquitetos e urbanistas gaúchos até hoje.
A cada nova iniciativa, a AAI-RS contribuía para melhor compreensão da atividade e, consequentemente, para valorização da profissão. A gestão seguinte, presidida por Denise Carazza, deu início ao Programa de Qualificação Profissional da AAI-RS e conferiu ainda maior visibilidade ao segmento ao incentivar a participação dos associados em mostras e exposições. A entidade, inclusive, firmou parceria com a Mehrco Projetos, Promoções e Eventos e promoveu, em 1997, a 1ª Mostra de Arquitetura de Interiores, realizada em paralelo à 3ª Feira de Materiais de Construção, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O principal objetivo era divulgar o trabalho do profissional de Arquitetura de Interiores. Sob a orientação da AAI-RS, um imóvel de 162m2 foi simulado, com onze ambientes projetados por arquitetos associados. Além da exposição, o catálogo produzido para a mostra também foi muito bem recebido pelo mercado, o que motivou a diretoria a lançar uma publicação própria, no ano seguinte: a revista AAI-RS – arquitetura de interiores.
Tendo Gislaine Saibro como presidente, a gestão seguinte deu continuidade ao investimento em comunicação e passou a fortalecer a importância do associativismo entre seus pares, culminando na união das entidades representativas da Arquitetura no Rio Grande do Sul e no engajamento à campanha nacional pela criação do então chamado Colégio Brasileiro de Arquitetos. A AAI-RS passou também a atuar ativamente em debates sobre a cidade, participando de diversas Comissões criadas pelo poder público municipal; e aproximou-se da sociedade civil organizada, atuando voluntariamente no desenvolvimento e na execução de projetos para instituições de assistência social. Nessa época, a AAI-RS intensificava a luta pela conquista de uma representação oficial no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) – o que veio a se concretizar em 2002, já na gestão presidida por Cristina Azevedo.
Naquele mesmo ano, a diretoria decidiu retomar o veículo de comunicação da entidade – que foi batizado de AAI em revista – e, em dezembro, marcando a celebração dos 15 anos de fundação da AAI-RS, a Associação lançou uma publicação especial com a adesão de arquitetos associados para apresentação de projetos de Arquitetura de Interiores, originando o anuário AAI em revista – arquitetos que já está em sua 16a edição. O informativo AAI em revista, com periodicidade bimestral, circulou até 2014, alcançando 70 edições ininterruptas.
Ainda em 2002 foi oficializada a criação do Fórum de Arquitetos, envolvendo a AAI-RS, o Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul (Saergs), a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB RS). Cinco anos mais tarde, em 2008, as entidades assinaram um protocolo de intenções para atuação conjunta em assuntos de interesse da Arquitetura e dos arquitetos e urbanistas. A iniciativa, precursora, foi bastante elogiada pelas principais entidades do setor em nível nacional. “Garantimos a união necessária para tomar a dianteira quanto às questões profissionais e, em especial, aglutinamos interesses em torno das demandas do novo Conselho Profissional que estaria por vir”, explica a arquiteta Gislaine Saibro, então diretora de Exercício Profissional da AAI-RS, que representava a Associação junto ao Fórum e respondia pela coordenação da Câmara de Arquitetura (CEARQ) do CREA-RS na época.
Um importante passo para a expansão da Associação foi dado em 2009, na gestão presidida por Cristina Langer, com a criação da AAI Brasil e sua seccional AAI Brasil/RS. O engajamento da entidade em causas ‘nacionais’ da Arquitetura, como a luta pela criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), foi uma das motivações, assim como o crescente interesse de profissionais de outros estados pelo trabalho desenvolvido pela entidade gaúcha e, em especial, pelos instrumentos específicos para o exercício profissional na Arquitetura de Interiores desenvolvidos pela AAI.
Mais tarde, em 2010, Gislaine novamente assumiu a CEARQ-RS e passou a integrar o grupo nacional responsável pela transição dos arquitetos do Sistema Confea/CREA para o CAU, instituído pela Lei n0 12.378/2010. Desde a implantação do Conselho, a Associação tem importante representatividade junto ao CAU/RS, participando do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo e, também, entre os conselheiros: Gislaine Saibro foi conselheira federal suplente e respondeu como conselheira federal titular entre 2015-2017, quando Silvia Barakat, presidente da AAI Brasil/RS, assumiu como conselheira estadual do CAU/RS. E Silvia acaba de ser eleita novamente para o cargo para a gestão 2018-2020, tendo, como suplente, Cristina Langer. Vale ressaltar que a AAI Brasil/RS colaborou com o CAU/BR para a conceituação de “Arquitetura de Interiores” para fins de regulamentação das atividades privativas da Arquitetura e Urbanismo.
Formação e capacitação
Além da manutenção do Programa de Qualificação Profissional, com seminários anuais sobre os mais variados temas relacionados à Arquitetura de Interiores, a Associação deu início, em 2003, ao programa de viagens técnicas para atualização profissional. O primeiro destino foi São Paulo (SP), com visitas a showroom de indústrias do setor, ao icônico centro de compras localizado na rua Gabriel Monteiro e a duas mostras de arquitetura que estavam sendo realizadas na ocasião. A iniciativa foi sendo consolidada no calendário anual do setor e vem conquistando cada vez mais adeptos e novos destinos, no Brasil e em outros países da América do Sul, com visitas guiadas a projetos de destaque, espaços culturais e a escritórios de profissionais de renome.
A partir da ampliação do segmento e da representatividade da entidade no mercado, a Associação foi sendo também chamada para a sala de aula. As faculdades de Arquitetura de Urbanismo não possuíam disciplinas específicas sobre Arquitetura de Interiores e, aos poucos, foram abrindo-se para temas relacionados ao segmento. Então, desde 2001, a AAI ministra palestras para graduandos em Arquitetura e Urbanismo a convite dos professores de diversas universidades, em Porto Alegre e em cidades do interior. Em 2004, a UniRitter convidou a Associação para assumir o corpo docente da instituição e ministrar algumas aulas na quarta edição do curso de pós-graduação em Arquitetura de Interiores – o primeiro do Estado. Na oportunidade, foram apresentados temas como direito autoral, responsabilidade profissional, relações de trabalho, associativismo e a tabela de honorários específica para o setor, elaborada pela AAI-RS.
Essa tabela de honorários veio a originar o Guia de Orientação Profissional (GOP), desenvolvido pela entidade, que está em sua 9a edição, com versões impressa e digital e um conteúdo bastante abrangente. Em 2005, o GOP foi transformado em livro, com o apoio da editora UniRitter, organizado pelas arquitetas e urbanistas Cristina Azevedo, presidente da entidade, e Gislaine Saibro, representante da AAI-RS no CREA-RS. No livro, incluíram temas como conceituação de atividades técnicas, modelos de contrato de trabalho, código de ética, legislação e ferramentas de pesquisa de pós-ocupação.
A última edição do GOP trouxe, novamente, a Tabela de Honorários, a partir da revisão feita pelo Grupo de Trabalho do GOP entre 2012 e 2013. Outra novidade foi a inclusão do Método do Valor Hora (VH), importante instrumento de gestão que permite aos profissionais calcular o valor dos honorários. “A atuação da AAI foi de suma importância no debate da tabela de honorários como parâmetro para todos. A troca de experiências foi moldando um novo arquiteto muito mais profissional, ético e ligado nas novidades e tendências do mercado”, considera Joyce Chwartzmann.
Em 2017, já sob a presidência de Cármen Lila Gonçalves Pires (2º semestre do ano) a AAI Brasil/RS lançou a 1a edição digital do GOP, no formato de e-book, programando o lançamento de um aplicativo para o cálculo de honorários profissionais. Nos últimos anos, sob a presidência de Silvia Barakat, a AAI Brasil/RS seguiu investindo na capacitação dos profissionais que atuam em Arquitetura de Interiores, com seminários e visitas técnicas, e acrescentando workshops, palestras e talkshows à agenda de eventos promovidos. Destaca-se, também, o programa AAI + Perto de Você, que tem levado conteúdo técnico e atualizado para profissionais de cidades do interior do estado, as ações sociais, como o Almoço do Bem, com verba arrecadada para instituições beneficentes de Porto Alegre.
Na gestão da presidente Flávia Bastiani (2018/2019) foi lançado o aplicativo calculAAI, com uma forma mais aprimorada de cálculo de honorários, pelo Valor Hora Produtiva. E também foi lançada a revista eletrônica AAI Digital, em continuidade à produção e à disseminação de conteúdo relacionado à Arquitetura de Interiores publicado em mais de 20 anos.
Desafios da atualidade
Se por um lado, o cliente passou a respeitar e valorizar mais o profissional de arquitetura, por outro ele passou a cobrá-lo mais. “O cliente está mais informado. Ele pesquisa tudo e, por isso, exige mais”, considera Arlene Lubianca. Antigamente, o arquiteto era a única fonte de informações. Hoje, há um excesso de referências, acessíveis de forma instantânea, em tempo real. “E isso muda tudo em relação às exigências e à forma de mostrar que aquele projeto em questão é o melhor para o cliente. É preciso preparar-se muito bem para vender a ideia”, enfatiza Joyce. Na sua avaliação, o cliente busca um profissional com conhecimento dos resultados e sobre como alcançá-los. “O amadorismo não tem vez”, frisa. Arlene Lubianca compartilha da mesma opinião: “A profissão exige profissionalismo na gestão de projetos e dos escritórios”, complementando com outros desafios da atualidade para os arquitetos: aumento da concorrência, rearranjos profissionais e necessidade de atualização constante, incluindo a educação continuada.
A tarefa de divulgar a importância do profissional adequado mantém-se constante, acredita Roberto Bordash. “Esse profissional precisa estar alinhado com as novas tendências e tecnologias e, também, estar atualizado em relação à legislação vigente e ao código do consumidor. Daí o principal motivo de haver um domínio técnico do desempenho da atividade”, complementa. Nesse sentido, Joyce reconhece outro importante desafio: saber estabelecer parcerias e empregar novas tecnologias sem banalizar a atividade ou simplificar as soluções propostas. “Devemos, ao contrário, buscar formas de mostrar que não somos meros ‘montadores de vitrines’, mas criadores e executores de espaços internos únicos, especiais, diferenciados, surpreendentes, adequados ao uso a que se propõem e às necessidades do cliente. Acho que é isso que todos esperam de um arquiteto, e isso é bastante complexo”, pontua.
Arlene Lubianca identifica questões atuais que podem comprometer o processo de reconhecimento da importância da Arquitetura de Interiores. “Vejo pouca valorização da qualidade do projeto e superexposição de ‘egos’. Vejo muita guerra de preço e remuneração por ‘RT’ compensando isso. Esta atitude é um ‘tiro no pé’, pois faz com que o mercado perceba cada vez menos o valor no nosso trabalho”, alerta a arquiteta e urbanista. Considerando a dinâmica e a evolução da sociedade, os desafios sempre serão uma constante. “Passamos por muitas mudanças, crises e dúvidas em relação a forma de trabalhar, mas acredito que o maior desafio sempre foi e sempre será manter a ética profissional como valor principal”, enfatiza Joyce.
A atual presidente da Associação, Gislaine Saibro, acredita que, nestes mais de 30 anos que se passaram, as principais batalhas seguem as mesmas; porém, em cenários e conjunturas diferenciadas. Em especial em uma situação de pandemia, a qual impõe desafios inéditos, além das preocupações crescentes com o meio ambiente. Ela acredita na força da união de esforços dos arquitetos e urbanistas pela valorização da profissão, como acreditaram os fundadores da AAI-RS em 1987, objetivo que segue atual e o será sempre. E, também, na responsabilidade dos arquitetos e urbanistas na promoção da sustentabilidade.
Gislaine destaca a iniciativa inédita da entidade para aprofundamento do tema junto aos profissionais que atuam no segmento de Arquitetura de Interiores. A AAI Brasil/RS está realizando este ano o “Arquitetura Responsável – Grupo de Trabalho e ebook”, a partir da contratação de uma consultoria especializada. Como resultado das atividades do Grupo de Trabalho, no estudo e debate sobre as práticas de sustentabilidade na Arquitetura de Interiores, será produzida uma publicação, em formato digital, que servirá como parâmetros de referência para o setor.
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Matéria originalmente publicada na AAI em revista – arquitetos, edição que marcou a celebração dos 30 anos da entidade, lançada em dezembro de 2017. Clique aqui para ler a edição na íntegra. A foto em destaque é de projeto de Arquitetura de Interiores de autoria da arquiteta e urbanista Angela Limberger, apresentado naquela edição.
Este texto foi atualizado em 24 de setembro de 2020.