As premissas do projeto de uma hospedaria em Cambará do Sul, na Serra Gaúcha, foram de ser um refúgio em que o hóspede usufruísse da melhor vista dos campos. O empreendimento foi idealizado especificamente para oferecer hospedagem via Airbnb, sob os conceitos de exclusividade e de experiência.
A partir das necessidades identificadas e considerando as mudanças constantes de locais turísticos e de interesse, os arquitetos e urbanistas Saymon Dall Alba e Mégui Dal Bó, de Caxias do Sul, apostaram na construção modular industrializada para o projeto. E escolheram dois containers, de 20 pés cada, para a composição das edificações, que podem, então, ser transportadas para outro terreno de forma rápida e sem agressões ao meio onde atualmente estão inseridas. Unidos paralelamente, eles totalizam 68 metros quadrados de área construída.
No planejamento do projeto, a equipe partiu do conceito de uma Tiny House, tendência de viver em casas bem pequenas, somente com o mínimo necessário. “Dentro de uma cultura que mescla desapego, sustentabilidade, menor geração de resíduos e um freio no consumismo exacerbado, os containers seguem a ideia de mini habitações, onde o hóspede possui toda comodidade e tecnologia em um espaço reduzido”, argumenta Mégui.
Integração e conforto
Assim, planejaram um espaço totalmente integrado, com cozinha compacta, que conta com frigobar, cooktop, forno elétrico, cafeteira e demais eletrodomésticos, e mesa de refeições com quatro lugares, executada em madeira natural com pés de serralheria. O ambiente da TV e lareira conta com sofá-cama fazendo divisa com a cama de casal.
Grandes aberturas em locais estratégicos criam molduras na paisagem. O grande vão envidraçado se abre para a varanda, um avanço na estrutura criado com as portas originais dos containers e um deck de concreto pré-moldado. Estes vãos receberam esquadrias em alumínio preto e persianas horizontais, que funcionam como brises ao regular a entrada de luz natural. A iluminação artificial foi desenvolvida a partir do uso de eletrocalhas metálicas com spots e lâmpadas LED PAR20, criando efeitos cênicos e evidenciando o papel de parede de tijolo rústico e as esculturas de madeira natural nas paredes.
Como o teto dos containers ficou aparente, acima dele foi aplicada uma camada de poliuretano expandido, para impermeabilização e para garantir conforto térmico e acústico. O teto recebeu, também, uma camada de 10 centímetros de concreto e por final, grama sintética, criando, assim, um terraço que pode ser acessado por uma escada marinheiro. O acesso principal possui um recuo e se dá por uma porta original de container. Considerando que a cidade costuma registrar baixíssimas temperaturas durante o inverno, o projeto previu lareira a lenha, ar condicionado e aquecedor a gás, para agregar mais conforto aos hóspedes.
Potencialidades dos containers
A decisão pelo uso do container considerou a utilização de materiais ecologicamente corretos, a economia de recursos naturais, o menor tempo de execução de obra e a preservação do perfil natural do terreno. “Além disso, a redução de recursos da obra como água, areia, cascalho, cimento, tijolo e ferro, significa uma economia de recursos naturais, deixando o canteiro de obras limpo e não gerando entulhos e sobras de material”, complementa Saymon. Segundo ele, obteve-se uma economia considerável no custo das fundações e no impacto destas no perfil do terreno, já que a estrutura metálica leve possibilitou o uso de sapatas isoladas e pequenas, sem necessidade de armação e ferragens.
Esta foi a primeira vez que os arquitetos desenvolveram um projeto em container. “E nos surpreendemos com a execução do projeto, de forma rápida e limpa. O sistema OffSide (construção fora do terreno) possibilita que muito da obra seja adiantada em pavilhões das empresas especializadas em projetos em container e quando eles chegam no terreno já possuem toda parte de aberturas e estrutura para paredes de gesso, otimizando o tempo de obra”, explica Saymon.
Além de Saymon e Mégui, a equipe do projeto foi composta pelos arquitetos e urbanistas Bárbara Fernandes Dall Alba, David Thomas Simpson e Angélica Ravizzoni Veronese e da acadêmica de Arquitetura e Urbanismo Amanda Marcolin.
(Atualização em 19/11/2020: o projeto conquistou Menção Honrosa no Prêmio AAInteriores 2020 conforme indicação da Curadoria. Clique aqui e saiba mais).
Fotografia: Guilherme Jordani | Divulgação