O impacto ambiental de cada decisão de projeto na Arquitetura de Interiores foi o centro do debate promovido pelo evento vivênciAAI, realizado de forma on-line pela AAI Brasil/RS, a Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS. A responsabilidade do profissional no planejamento do espaço e na especificação dos materiais e equipamentos e o seu papel para a conquista do comprometimento de toda a cadeia foram os destaques. O evento foi realizado no dia 30 de julho e está disponível na íntegra, com acesso público, no CanalAAI, no YouTube. Clique aqui para assistir.
“Nós podemos, como grupo, influenciar o crescimento de uma indústria muito mais orientada para o desenvolvimento sustentável. Para isso, é muito importante conhecer o ciclo de vida – tanto aplicado aos materiais até as edificações”, destacou a arquiteta e urbanista María Andrea Triana Montes, sócia-titular da DUX Arquitetura & Engenharia Bioclimática, Mestre em Arquitetura e Urbanismo na área de sustentabilidade nas edificações e Doutora em Engenharia Civil junto ao Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no qual participa como pesquisadora. A DUX é especializada na proposição e implementação de estratégias de sustentabilidade e eficiência energética no ambiente construído. A empresa foi contratada pela AAI Brasil/RS para o desenvolvimento do projeto “Arquitetura responsável: grupo de trabalho e e-book”, inédito no setor.
Projeto e especificação
Em sua apresentação, María Andrea lembrou que o trabalho dos arquitetos está diretamente relacionado às edificações, e as edificações são das maiores consumidoras de energia elétrica, com participação de 45% de energias renováveis na matriz energética no país – sendo que, desses, 25% são edificações residenciais. “Tudo tem um impacto, desde a extração da matéria-prima, processamento do material, fabricação, operação, uso até o final da vida útil. E, se pensamos esse ciclo abordado nas edificações, a concepção do projeto de Arquitetura de Interiores e a especificação dos materiais estão relacionadas a cada uma das etapas, ocasionando maior ou menor consumo de energia ou impacto na natureza”, enfatizou a arquiteta.
Nesse sentido, a profissional elencou as principais áreas de atenção dos profissionais, considerando o tripé social, ambiental e econômico: projetos de renovação; seleção de materiais e acabamentos; escolha de iluminação; escolha de eletrodomésticos; melhorar desempenho térmico da envoltória; melhorar eficiência dos sistemas de energia e dos sistemas de água.
Escolhas responsáveis
O engenheiro de produção civil Olavo Kucker Arantes, atual presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e também titular da DUX Arquitetura & Engenharia Bioclimática (SC), reforçou a importância do papel dos arquitetos na especificação dos materiais e na seleção dos fornecedores, os quais devem ser cobrados para que forneçam informações claras e completas sobre os materiais. “A análise de ciclo de vida é muito complexa no setor, pois envolve milhares de itens. É preciso que a informação esteja disponível de modo simplificado para entendermos o seu impacto. E isso só vai ocorrer aos poucos, a partir da pressão dos setores organizados para que se possa obter essa informação”, pontuou.
A vigência da Norma de Desempenho das Edificações (ABNT NBR 15575) e a retomada do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) foram lembradas por ele como importantes medidas para o comprometimento de toda a cadeia. Ele citou, também, como alternativa aos profissionais, a aplicação da “Ferramenta dos Seis Passos”, desenvolvida pelo CBCS para a seleção consciente de empresas e materiais sustentáveis. São eles:
- Passo 1 – Verificação da formalidade da empresa fabricante e fornecedora.
- Passo 2 – Verificação da licença ambiental.
- Passo 3 – Verificação das questões sociais.
- Passo 4 – Qualidade e normas técnicas do produto.
- Passo 5 – Consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa.
- Passo 6 – Identificar a existência de propaganda enganosa
Posicionamento junto ao mercado
Convidadas como debatedoras para esta edição do vivênciAAI, as arquitetas e urbanistas Ingrid Louise de Souza Dahm, sócia-titular da Cubo Verde Arquitetura Sustentável (RS), e Audrey Bello Ramos, titular da Ydesign Studio de Projetos e Sustentabilidade (RS), também trataram sobre esse desafio na Arquitetura de Interiores. “Devemos fazer questionamentos aos fornecedores quanto à composição dos produtos que estão nos fornecendo e pressioná-los para que tenham uma lista de entregas e o comprometimento deles em relação ao que estão nos entregando”, afirmou Ingrid, pós-graduada em construções sustentáveis.
María Andrea reforçou a importância desse posicionamento. “Na medida em que a gente começa, como setor, a questionar e a decidir algumas questões, começa a haver pressão no mercado, e a indústria segue a expectativa de mercado. Realmente, são poucas empresas que fornecem relatório de impacto ambiental ou que têm algum certificado ou declaração ambiental de produto. Isso seria o ideal. Porque aí, você consegue avaliar como estão esses impactos”, disse.
Audrey concordou que a pressão e o respaldo da legislação são fundamentais. “Essa informação deixa o próprio profissional tranquilo na especificação e, também, para deixar claro essa consciência para o cliente, o qual poderá ter esse poder de pressão também”, frisou. Ela citou que o Brasil tem avançado com legislação específica e em pesquisas. “Percebemos que o nosso momento está demandando isso, e cada vez mais vem a colaborar para a importância da especificação correta e para o cliente entenda a sua responsabilidade”, disse Audrey, Mestre em Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais.
A AAI Brasil/RS disponibilizou a apresentação feita pela DUX no evento. Clique aqui para acessar.
Arquitetura responsável: grupo de trabalho e e-book
Esta edição do vivênciAAI foi importante para o debate de outro projeto, inédito, de aprofundamento junto aos profissionais que atuam no segmento de Arquitetura de Interiores. Trata-se do “Arquitetura Responsável – Grupo de Trabalho e ebook” desenvolvido pela AAI Brasil/RS, a partir da contratação da consultoria da DUX Arquitetura & Engenharia Bioclimática. Como resultado das atividades do Grupo de Trabalho, no estudo e debate sobre as práticas de sustentabilidade na Arquitetura de Interiores, será produzida uma publicação, em formato digital, que servirá como parâmetros de referência para o setor.
“A Arquitetura precisa ser revestida de ideais, o oposto do verdadeiro isolamento social que nos ataca todo o dia, como sociedade. A rebeldia dos novos tempos será como um propósito, um senso de comunidade, de responsabilidade conosco e com o mundo que nos envolve. Pactos de sustentabilidade com a redução de abismos entre pessoas, e ambientes saudáveis, serão a beleza mais preciosa a emergir com a alegria da nossa própria sobrevivência”, afirma a arquiteta e urbanista Gislaine Saibro, presidente da AAI Brasil/RS.
Este primeiro evento vivênciAAI e o projeto Arquitetura Responsável – Grupo de Trabalho e ebook, em 2020, são iniciativas da AAI Brasil/RS que contam com o patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS (CAU/RS) e apoio de AsBEA/RS, IAB/RS, SAERGS, FENEA e Sindividros.
Assista ao evento
Você pode assistir ao evento aqui ou diretamente no Canal AAI, no YouTube.