Em 34 anos dedicados à profissão, pela primeira vez, a arquiteta e urbanista Ana Lore Miranda – associada da AAI Brasil/RS, assumiu o desafio de comandar o trabalho de recuperação de um imóvel histórico. “São mais de 30 anos de experiência. Já fiz muita coisa, mas nunca com prédio histórico. Restaurar é algo delicado, ter que reproduzir peças, inclusive com as técnicas da época. Acredito que este seja o maior desafio em situações como esta”, pontua Ana Lore.
A edificação em questão é um prédio construído em 1913 em Taquara, município da região Metropolitana de Porto Alegre. Ele é classificado como de interesse histórico da cidade. Assim, foi indispensável a preservação estética e funcional de toda área externa. Aliás, Taquara, onde a profissional mantém o escritório, é um município de colonização alemã e apresenta pequenas edificações que fazem parte da história do lugar. Este prédio histórico centenário é uma delas.
Ana Lore foi contratada para o desenvolvimento do projeto de Arquitetura de Interiores e execução de reforma, a partir da intervenção inicial de outro profissional de Arquitetura no imóvel, de 378 metros quadrados. A pedido da cliente – uma senhora nascida em Taquara, mas que há anos vive nos Estados Unidos, o imóvel precisaria ser transformado em três unidades verticais independentes. A área perdida, de esquina, que desabou em um incêndio na década de 1980, deveria dar lugar a um jardim.
O trabalho abrangeu uma intervenção completa. Incluiu a recuperação das paredes externas, com parte de seus adornos e cimalhas, e outros elementos, conforme projeto original. “Foi uma experiência maravilhosa na Arquitetura, na restauração, na revitalização de usos e na gestão de pessoas. Contamos com uma equipe de trabalhadores muito diversa e essencial no resultado. Pedreiros, carpinteiros, vidreiros, marmoreiros, pintores, gesseiros, serventes, funileiros, encanadores, eletricistas, marceneiros e engenheiros”, destaca Ana Lore.
História preservada no prédio histórico
A edificação de uso misto abrigou, por muitos anos, um comércio de tecidos, a Casa Dienstmann, como muitos a denominam até hoje. A loja ocupava o térreo da casa, que também conta com subsolo, onde ficava localizado o poço natural, dentro de casa, já que não existia água encanada naquela época; e primeiro pavimento, onde residia a família.
O acesso à residência era e ainda é independente, por uma escada lateral, que é guardada por dois leões, estátuas que foram recuperadas e valorizada pela iluminação projetada. O processo de reprodução de peças originais foi primoroso. “Não enfrentamos grandes problemas. Contudo, precisamos de muito cuidado em cada detalhe. Não tínhamos o ano de construção da casa gravado na fachada, que originalmente estava no setor que desabou, por isso, tivemos que reproduzi-lo. Isso foi feito à mão pelo nosso mestre de obras, o Sr. Cleomar. Balaústres quebrados ou comprometidos foram reproduzidos e instalados novamente. O poço de água existente no subsolo da casa foi reconstituído”, detalha Ana Lore.
Início dos trabalhos
Quando Ana Lore foi acionada, algumas intervenções estruturais já tinham sido concluídas. Portanto, o telhado havia sido refeito e uma estrutura interna de reforço para toda a casa havia sido executada em metal. Parte das esquadrias originais, apodrecidas, já havia sido removida. A partir daí foi iniciado o projeto de Arquitetura de Interiores, para a adequação dos espaços internos. Ana Lore assumiu a reforma, com o planejamento, as contratações, definiu o cronograma das obras e partiu para a execução. Enfim, passados 17 meses de intenso trabalho, a casa foi entregue à proprietária.
O andar superior foi transformado em um charmoso apartamento, com direito à sacada com flores. O térreo foi disponibilizado para locação comercial, honrando a utilização original. O subsolo foi preparado para, eventualmente, abrigar um café/ bistrô, no futuro, ou um empório de condimentos e azeites diferenciados, bebidas artesanais, sugestão da própria autora do projeto.
Este projeto ainda conta com um fato curioso. A proprietária do imóvel e Ana Lore conheceram-se pessoalmente apenas no final da obra. Assim, tudo foi alinhado à distância, o que demonstrou total confiança da cliente no trabalho da arquiteta.
Imagens do prédio histórico: Acervo pessoal da arquiteta Ana Lore
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