Um dia de novas experiências e muito conteúdo. Assim foi a primeira edição do vivênciAAI, que tem a proposta de trazer à reflexão temas relevantes para a Arquitetura a partir de dinâmicas diferenciadas. A Arquitetura Acessível foi o tema dessa primeira edição, abordado por meio de palestra, oficina e apresentação teatral. O evento foi realizado no dia 27 de junho, no auditório da IMED Porto Alegre.
Os conteúdos técnicos foram apresentados pelo arquiteto e urbanista Eduardo Ronchetti, de São Paulo, especialista em projetos de acessibilidade aplicada. Ele trouxe à tona os três principais pilares da Norma de acessibilidade: conforto, segurança e autonomia. De forma geral, o conforto busca permitir que as tarefas sejam executadas com menor esforço físico. A segurança, claramente, busca evitar acidentes de variados portes. E a autonomia, prevê condições para que pessoas com qualquer deficiência possam viver de forma autônoma, realizando atividades do dia a dia.
À luz da NBR-9050, que estabelece critérios e parâmetros para acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, Eduardo Ronchetti apresentou exemplos práticos de itens a serem observados em cada projeto e destacou que a acessibilidade não se destina apenas a cadeirantes, como parece ser o senso comum, mas também a idosos, crianças, pessoas com diferentes problemas de mobilidade e até mesmo com baixa visão. “O desafio central da acessibilidade é que estamos tentando resolver as necessidades de todas as pessoas, ao mesmo tempo, no mesmo ambiente e considerando as múltiplas deficiências”, explicou o arquiteto. A norma, enfatizou, busca atender o maior número possível de pessoas sem tratá-las de forma diferente.
Ele destacou, ainda, que a Norma, editada em 2015, corrige também um problema técnico nas referências dos projetos de Arquitetura. Ele lembrou que, até então, a base eram os padrões antropométricos definidos por Ernest Neufert, no livro A Arte de Projetar. “Esses padrões eram de um homem alemão, de 1950, bem maior do que o brasileiro. A Norma corrigiu isso, trazendo as referências para o perfil médio do brasileiro”, acrescentou.
A evidência é que a preocupação com a acessibilidade universal, esteja presente em todos os projetos, seja na adequação de uma residência para acompanhar o envelhecimento dos seus moradores, seja em projetos comerciais como em supermercados e até bibliotecas. “A acessibilidade é uma forma de projetar, não um projeto complementar”, afirmou Eduardo Ronchetti, lembrando que o Brasil deverá ter, em 2027, quase 40 milhões de pessoas com mais de 60 anos e 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.
vivênciAAI mostrou as dificuldades na prática
Para mostrar as dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência ou redução de mobilidade na prática, a arquiteta e urbanista Liane Etcheverry conduziu a Oficina Empatia. Referência no Rio Grande do Sul em projetos de Arquitetura acessível desde 1992, ela convidou Eduardo Ronchetti para enriquecer ainda mais a experiência. Os participantes foram convidados a usar equipamentos que simulavam deficiências e limitações variadas, e foram desafiados e percorrer pequenos trajetos para entenderem as barreiras encontradas.
Muletas, cadeiras de rodas, vendas para tapar os olhos, óculos que simulavam deficiências visuais graves e até peso nas pernas para reproduzir a dificuldade dos idosos foram utilizados pelos participantes. O resultado foi a vivência prática de como cada ambiente traz desafios e barreiras para as pessoas com as mais variadas limitações e deficiências.
O dia de aprendizados terminou com a apresentação emocionante do ator, bailarino e dramaturgo gaúcho Luciano Mallmann. Cadeirante, ele apresentou um monólogo sobre como é viver sobre duas rodas a partir da própria experiência e os relatos de pessoas que convivem com as consequências de uma lesão medular. Preconceito, resiliência e histórias que misturam sentimentos e situações emocionaram o público. Em relação à Arquitetura, Mallmann foi enfático ao destacar que os profissionais da área devem conhecer as necessidades dos diversos clientes, interagindo com os mesmos, para que possam entender quais as necessidades específicas para cada pessoa, em cada ambiente.
Próximas edições
Até o final do ano, o projeto vivênciAAI vai abordar assuntos diversos de interesse de profissionais e acadêmicos. Os temas das próximas edições são: Arquitetura Requalificada, sobre qualificação de ambientes urbanos e Arquitetura Social; Arquitetura Abrangente, considerando soluções humanizadas e a saudabilidade na edificação; e Arquitetura Possível, abordando sobre projetos economicamente viáveis. A atividade é gratuita para arquitetos e urbanistas e estudantes da área.
O vivênciAAI conta com o patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS (CAU/RS) e com o apoio de Saergs, IAB/RS, AsBEA/RS, Sindividros e QG Comunicação.
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Fotos: Cíntia Rodrigues | Divulgação AAI Brasil/RS